Os vizinhos ficaram alarmados pelos gritos de Ana Lúcia Cunha, com a roupa coberta de sangue e as mãos na cabeça. "Matei a minha filha." Chamada a polícia e os Bombeiros de Nice, em França, foram encontrar um cenário trágico na casa da emigrante portuguesa. Estendida ao lado da cama, a pequena Lara, de seis anos, jazia depois de assassinada à facada pela mãe.
A homicida, 37 anos, do Carregado, Alenquer, colou depois a faca à parede e projectou-se contra a arma branca - ferindo--se com gravidade nos pulmões. Ainda está internada, mas sob custódia policial. Está desempregada e sofre de problemas do foro psiquiátrico - está separada e vivia sozinha com as suas filhas. Vera, sete anos, sobreviveu à tragédia porque já estava de férias em Portugal, na casa dos avós maternos.O crime ocorreu a 18 de Julho, mas só ontem o corpo da menina chegou ao Carregado, recebido por cerca de 30 familiares e amigos.
Faltava pouco para as 18h00 quando a urna de Lara entrou na capela mortuária da Igreja do Carregado. "A nossa menina", diziam os familiares, de lágrimas no rosto. Lara e a irmã já nasceram em França. A mãe emigrara há 15 anos, para fugir aos problemas da droga. Já separada do pai das meninas, namorou até há pouco tempo com um italiano. A relação acabou e começou a viver em pesadelo - ao receber do ex-namorado ameaças de morte. Três dias antes do homicídio, Ana Lúcia decidiu ir à polícia.
Percebendo que a emigrante não estava bem psicologicamente, enviaram-na à urgência psiquiátrica, de onde saiu horas depois. Na quarta-feira, dia 18, pelas 07h00 locais, desferiu vários golpes na filha com uma faca de cozinha com uma lâmina de 70 centímetros. Os bombeiros, mal chegaram ao número 9 da rue de Miollis, ainda tentaram a reanimação. Sem sucesso.
Alguns sites alegam que a violência doméstica, dentro do grande esquema da violência em si, é um crime tão raro e tão ínfimo que não justifica o tipo de publicidade que recebe. Talvez o que interessa dizer é que, mesmo que a violência doméstica seja um tipo de violência amplamente difundido e propagado, não faz sentido tentar colocar este acto como algo unidireccional quando os dados demonstram que tanto os homens como as mulheres são violentos e abusivos.
Os governos sabem que a violência é practicamente recíproca, e as agências de apoio à vítima também. Devido a isso, convém perguntar: porque é que a imagem que é difundida da violência doméstica é uma que propaga a ideia de que só os homens são os culpados e só as mulheres são as vítimas? Como sempre, "o amor do dinheiro é a raiz de toda a espécie de males" (1 Timóteo 6:10):